Dia 1 de Maio | dia do luto eterno
Esse é o dia que não dá para evitar ou fugir. Quem me conhece sabe que o dia primeiro de Maio não é apenas o dia do trabalho, e sim o dia que a maior tragédia aconteceu na minha vida: eu perdi o meu pai. O dia do luto eterno.
Sempre falo que vou escrever um livro sobre o que aconteceu, talvez eu devia mesmo, deixar o mundo saber que no Brasil não tem justiça. Tá bom! Tá bom! Todo mundo sabe disso não é?! Mas viver isso em carne e osso é muito pior do que apenas dizer.
Para meus leitores que ainda não me conhecem muito bem eu vou desabafar um pouco do que aconteceu.
Dia primeiro de Maio, dia do luto eterno
Há 11 anos atrás, quando eu tinha 17 anos e meus irmãos de menores, meu amado pai enlouqueceu. Mas não é tão simples assim. Ele dizia coisas que não fazia sentido, fugia, dizia o tempo inteiro “ela quer me matar”, chorava, dizia que era o papa, conversava comigo como se eu fosse adulta, me fez pedir perdão para ele, me perdoou, me fez prometer coisas e me fez jurar que eu ia cuidar dos meus irmãos. Eu não entendia nada, não conseguia com minha mente de adolescente entender o que estava acontecendo.
Até que no dia 1 de Maio, ele teve uma crise, corria pelas ruas de Vitória como louco. Eu corria atrás dele, não sabia por que, apenas corria. Com muita dificuldade e luta a minha avó conseguiu uma clínica que aceitasse receber ele. Quando os enfermeiros chegaram ele lutava contra, corria mais, eu corria também e chorava muito. Quando finalmente eles alcançaram meu pai, ele olhava nos meus olhos e gritava por ajuda, apenas dizendo “não deixa eles fazerem isso comigo, ela quer me matar”. Eu era adolescente e me senti inútil. Os enfermeiros deram uma injeção para acalma-lo e levaram ele para a clínica.
Não sabia o que pensar, apenas tinha esperança que tudo ia voltar como antes. Até que veio a notícia. Ele estava muito acelerado quando deram a injeção nele, o coração dele não aguentou. Meu mundo acabou. Parei de respirar por muitos momentos. E vocês acreditam que essa dor ainda inunda meu ser até hoje, como se eu tivesse acabado de receber a notícia.
No outro dia no funeral, eu estava rodeada de amigos, pessoas que me amavam. Foi quando vi ela, a namorada do meu pai. Um milhão de coisas passaram pela minha cabeça: “Finalmente ela apareceu.” “Onde ela esteve?” “Por que ela não veio falar com a gente antes?”. Foi aí que um simples gesto mudou a minha vida. Ela olhou para meu pai morto no caixão e olhou para trás, fez um sinal de ok com a mão e creio que até vi um pequeno sorriso. Não aguentei, era o cúmulo, comecei a gritar como louca. Tudo fazia sentido agora. Porém sem provas não podemos acusar ninguém não é? Ainda mais em uma justiça que beneficia os criminais, como é no Brasil. Então tirem suas conclusões.
No outro dia, quando fomos pegar as coisas na casa do meu pai, ela tinha levado TUDO enquanto nós estávamos no funeral. Até o nosso cachorro. Sabe o que é olhar para o lado, ver a cara de perdido dos meus irmãos de 12 e 15 anos e me sentir a pessoa mais inútil do mundo. Eu estava falhando com uma das coisas que meu pai me pediu, que era cuidar deles. Mas não podia fazer nada.
Durante esses 11 anos meu pai tinha 33.000 em uma conta, nós éramos de menores e nunca conseguimos colocar um dedo nesse dinheiro. Porém misteriosamente metade desse dinheiro sumiu da conta. Deixamos para lá, só queríamos resolver a outra metade e não ter mais nosso nome associado a essa dor, a esse passado. Mais entra ano e sai ano ainda nada foi resolvido.
Nós três fomos fortes e lutamos na nossa vida para chegar onde estamos. Sei que onde meu pai estiver, ele está orgulhoso. Apenas gostaria de dar um ponto final nessa história e deixar que ele e a gente tenha paz.