Nunca pensei que passaria por uma experiência como essa. Viver em um hostel de trabalho na Austrália te ensina muitas coisas. Ao mesmo tempo desafia seus limites e princípios, sabe por que? Vem comigo que te explico. 

O que é um hostel de trabalho na Austrália?

Primeiramente vamos começar do começo: o que é um hostel de trabalho? Para quem nunca escutou falar deles, são albergues que encontram trabalho para quem se hospeda neles. Muito comum nas áreas rurais da Austrália, é o principal destino para os aplicantes de Working Holiday Visa.

Geralmente eles formam uma “mafia” com os fazendeiros da região. Fecham acordos de exclusividade, ou seja o fazendeiro pode apenas ter trabalhadores que sejam de determinado hostel. Em contrapartida os hostels garantem pessoas durante o ano todo em suas “precárias” acomodações. Esse contrato entre eles funciona muito bem, os donos de hostel fazem bastante dinheiro mesmo estando em uma área rural e os fazendeiros não precisam se preocupar com a burocracia de achar trabalhadores.

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Viver em um hostel de trabalho na Austrália e suas dificuldades

Quando cheguei no hostel, nos primeiros dias apenas chorava. Achei que tinha chegado no limite da minha vida para ser sincera. Hoje eu olho para traz e sei que exagerei bastante, mas como somos jovens e recém saímos da casa dos nossos pais, parece que o mundo vai nos engolir. Isso foi a primeira grande dificuldade. Eu tinha empregada no Brasil que fazia tudo para a minha família, ali eu estava por conta própria. Ai se eu tivesse aprendido aquelas aulas de culinária que tanto tentaram me ensinar, teria sido mais fácil.

Cozinha

Outro grande desafio era cozinhar. No hostel onde eu vivi, éramos 70 jovens. Já imaginou 70 pessoas usando a mesma cozinha? Coisa boa não ia dar não é? Ainda mais que nossa cozinha era bem precária, eram 12 bocas no fogão, 15 panelas e 70 pessoas.

Me cansei de brigar por uma boca de fogão, ter duas para cozinhar era luxo ou você teria que fazer sua comida bem cedo. O lugar ficava nojento todas as noites. Meu marido por uns meses era responsável por limpar a cozinha em troca de acomodação de graça. As vezes dava vontade de chorar ao ver tanta sujeira.

E a geladeira? Era um quarto refrigerado onde cada um tinha uma caixa de plástico para colocar tudo que tivesse. Cada um tinha que lembrar onde colocou e qual era seu número. Por incrível que pareça as vezes era uma tarefa difícil achar onde estava minha caixa.

Quartos

Vamos falar dos quartos. Eles eram divididos em 3, 6 ou 9 pessoas. Nos meus primeiros 6 meses morei em um de 6 pessoas. “Mas Giulia para conseguir seu segundo ano de visto você não tem que ficar apenas 3 meses, por que ficou 6 lá?” calma ai que já vou chegar nessa parte. A primeira pessoa a acordar coloca o alarme e claro, as outras 5 acabam acordando também. Se você tem o azar de ter pessoas sem noção no seu quarto pode ser um pesadelo. Eu tive sorte pois eram todos quietos, por outro lado um coreano que estava no meu quarto tentou me espiar no chuveiro. Sai de toalha no corredor e comecei a gritar com ele em português (não falava inglês ainda). Mesmo sem entender uma palavra, todo mundo entendeu o que estava acontecendo.

Veja aqui como tudo começou. Minha experiência com o Working Holiday Visa

No meu quarto eram 3 beliches, nada de cortinas e um cômodo minúsculo para guardar as roupas. Nos quartos de 6 havia banheiro. Já os quartos de 3 ou 9 que ficavam do outro lado, o banheiro era dividido.

Diversão

Quando cheguei a 7 anos atrás não havia wifi ainda no hostel. Tínhamos uma televisão e vários sofas velhos virados para a mesma TV. Uma pessoa ia na recepção e pedia a lista de filmes. O filme escolhido era exibido para todos, tipo prisão.

Não gostou do filme, você podia jogar ping pong ou ler um livro na sala que ficava no segundo andar. Queria usar internet? Tínhamos que ir na biblioteca da cidade e usar o wifi de graça deles. No segundo ano que eu estava lá, os donos colocaram WIFI, mas era bem devagar.

Atenção! O ministério Wanderlust adverte: essa foi a minha experiência. Cada hostel é diferente e pode ser pior ou melhor que esse.

E os ensinamentos?

Lembra que você me perguntou acima o por que eu fiquei lá por tanto tempo, a resposta é simples: amigos. Nesse tempo inteiro que estive lá, formei uma família, tanto no trabalho como no hostel. Eu trabalhei em uma fazenda de macadamia que me adoravam. Fiz tantas amizades que permaneceram por todos esses anos. Com cada um deles aprendi muito. Passei a ser uma pessoa mais simples, a conhecer mais a mim mesma, a dividir não só momentos como coisas materiais e a aproveitar mais a vida. Apesar de todos os perrengues, foi uma das melhores experiências.

Vale a pena morar em um hostel de trabalho na Austrália?

Não é fácil. Isso dependerá única e exclusivamente de você. Para aqueles que buscam trabalho para o Working Holiday Visa é uma boa. Depende se você está aberto a mudar e se é uma pessoa que pode abrir a mente para novas aventuras.

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