Meu primeiro trabalho em uma fazenda australiana
O meu início não foi fácil (se você não leu, entra aqui). Chegar a um hostel onde não conhecia nada nem ninguém foi um choque, que não saía da minha cabeça durante a noite toda. Ainda mais agora que já sabia onde seria meu primeiro trabalho em uma fazenda australiana.
Fui correndo comprar o que precisava para o dia seguinte: luvas, chapéu, protetor e comida. Não tinha ideia como seria, que tipo de fazenda seria ou o que faria.
A noite se fez longa e longa, afinal minha beliche ficava na janela que dava de frente para a estação de trem. No meio da noite passava um trem apitando tão alto que era impossível não acordar. Não faltava muito tempo mais, teria que acordar às 4 da manhã.
Meu primeiro trabalho em uma fazenda australiana
Quando o despertador tocou eu já estava acordada, afinal o calor, a luz e o barulho não me deixaram dormir. Me arrastei para tomar meu café da manhã. Preparei minhas coisas, entre elas uma lancheira térmica fofa de dinossauro que eu comprei para colocar minha comida.
Fui em direção ao estacionamento que ficava na frente da minha janela. Toda tímida fiquei no meu canto esperando que chamassem a minha fazenda. E você aí do outro lado se perguntando “como funciona o transporte?” Vou explicar! Cada pessoa que está na lista de trabalho paga um valor por dia (na época $7 dólares) para o transporte. São vans e ônibus que saem em um horário determinado. Se na lista estiver escrito que seu transporte sai às 5 da manhã e você não estiver lá, perde o trabalho. A van sai em ponto, quem perdeu perdeu. E na volta, o fazendeiro avisa ao hostel a hora que vai terminar o trabalho, assim eles organizam alguém para buscar os trabalhadores.
Voltando ao meu primeiro trabalho em uma fazenda australiana: lá estava eu esperando quando um senhor gritou “GRIMA“. Dei um pulo, essa era minha fazenda. Quando entrei no ônibus, não sabia onde esconder minha cara. Eram TODOS homens. E eu me sentia totalmente ridícula com a minha lancheira de dinossauro.
Ao chegar na fazenda, todos os meninos morriam de rir entre eles e me olhavam com olhar curiosos. Depois fiquei sabendo que essa fazenda era só para homens, mas que eles precisavam de gente extra e lá fui eu. Fiquei em um canto sem entender nada que estava acontecendo. Não entendia inglês, nem entender o que eles estavam falando eu conseguia. Até que surgiu uma mulher que veio direto na minha direção. Ela me disse algumas palavras e me entregou uma faca. Óbvio que não entendi ela, mas fiquei determinada a segui-la e fazer o que ela fazia.
Trabalhar com batata doce
Subimos todos em um caminhão que nos deixou no meio do nada. Haviam várias linhas cheias de plantas verdes. Fui atrás da mulher até que ela abaixou e pacientemente pegou a planta e me mostrou que eu tinha que cortar com a faca aproximadamente 7 cm acima do solo. Fácil! Pensei eu.
Estava seguindo ela é acompanhando seu ritmo. Depois de uma hora já não dava mais. Não conseguia fazer da mesma forma, minhas costas doíam. Passou mais um tempo e não sentia mais minhas pernas, não podia mais ficar abaixada. O dia se arrastou e só queria ir embora dali. Fiz o mesmo processo por 10 horas. Não podia mais. Não conseguia caminhar.
Ao chegar no hostel, fui direto para o banho aí descobri que tinha que fazer fila para o banheiro. Estava coberta de terra de cima a baixo. Aguentei o máximo possível até que finalmente chegou minha vez. Ao entrar no chuveiro chorei sem parar. Não conseguia entender como faria isso por 87 dias mais.
Porém eu precisava aguentar, tinha que ser forte. Tinha a esperança de que entraria em uma fazenda mais fácil. Foi quando deu 19h e eu saí correndo para ver a lista. Lá estava meu nome na mesma fazenda.
No outro dia foram 12 horas mais de sofrimento. Fazendo a mesma coisa. Tinha certeza de que não aguentaria, que depois dessa primeira semana iria embora. Não podia mais ficar. No final do dia a mulher me agradeceu e disse que não precisava mais de extras. Senti um alívio no peito e ao mesmo tempo medo do que seria meu próximo trabalho. Não tinha ideia do que estava por vir.
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